terça-feira, 17 de julho de 2012

Degradação das águas superficiais dificulta tratamento e preocupa especialistas da Caern


Edwin Carvalho – ACS Caern

A queda na qualidade das águas de rios, açudes e outros mananciais de superfície que auxiliam no abastecimento da população, entre eles o rio Pitimbu, em Natal, tem sido motivo de preocupação por parte dos técnicos da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). Ações como os constantes assoreamentos e a poluição das águas superficiais dificultam o processo de tratamento e obrigam a Caern a aumentar a dosagem de produtos químicos na água, de modo a garantir que ela chegue própria para consumo nas torneiras dos consumidores.

Com a desativação de dezenas de poços que apresentavam alto índice de nitrato, a Caern elevou significativamente a captação de águas superficiais para abastecimento da população de Natal nos últimos anos. A nova adutora Engenheiro Francisco Horácio Dantas, conhecida como adutora III do Jiqui, elevou de 25% para 38% a participação dos mananciais de superfície como fonte de captação de água para os moradores das zonas Sul, Leste e Oeste da capital. Já na Zona Norte, as águas superficiais da lagoa de Extremoz são esmagadora maioria: respondem por 75% do volume de água captada pela Caern na região. Os outros 25% vem de poços instalados em diferentes pontos.

Atualmente, a captação mensal de água da Caern na capital é de aproximadamente 7 bilhões de litros, dos quais cerca de 3,3 bilhões são provenientes de mananciais de superfície. “Com o avanço do processo de degradação em torno dos rios, açudes e lagoas, a Caern teve que aumentar a vigilância e investir em produtos e tecnologias que garantam o tratamento físico, químico e bacteriológico da água”, explica o gerente de Operações e Combate a Perdas da Companhia, Isaías Costa Filho. Ele observa, porém, que apesar do avanço da degradação ambiental, “a qualidade da água bruta de Natal ainda é considerada uma das melhores do Brasil e torna-se ainda melhor após o processo de tratamento”.

Diferente das águas subterrâneas, que estão naturalmente mais protegidas dos agentes de contaminação, os mananciais de superfície estão mais sujeitos à ação danosa do homem. Entre os principais fatores que comprometem a qualidade da água dos mananciais de superfície estão a destruição das matas ciliares, o lançamento de rejeitos químicos, resíduos industriais, agrotóxicos, fertilizantes e outros agentes poluidores.

EUTROFIZAÇÃO

Outro processo que preocupa os especialistas da Caern é o de eutrofização da água, provocado, entre outros fatores, pela urbanização das áreas dos mananciais e consequente lançamento de resíduos líquidos e sólidos (lixo urbano) nas áreas de rios, açudes e lagoas. Esses resíduos acabam servindo como fontes de nutrientes, contribuindo para o surgimento de microalgas, dentre elas as cianobactérias, que produzem toxinas capazes de tornar a água imprópria para consumo humano.

O processo de eutrofização da água é um fenômeno mundial e está diretamente relacionado à degradação dos mananciais. “Este é um processo altamente nocivo porque modifica os aspectos biológico e químico da água e dificulta o tratamento”, destaca o engenheiro Marco Calazans, da Caern, cuja tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) consistiu na elaboração de um método para remover as cianotoxinas. O trabalho do pesquisador está sendo aplicado na Caern em diversas estações de tratamento de água, entre elas a localizada no Açude Gargalheiras, em Acari, e na lagoa de Extremoz, responsável pelo abastecimento de grande parte da Zona Norte de Natal.

Apesar do avanço da degradação dos mananciais de superfície, a Caern tranquiliza a população quanto ao uso da água. “Tomamos todos os cuidados necessários para garantir a potabilidade da água que chega às torneiras do consumidor”, garante o gerente de Qualidade da Água e Meio Ambiente da Companhia, Afonso Holanda. Ele lembra que, assim como os clientes precisam de água de boa qualidade em suas casas, a empresa de saneamento também é usuária dos mananciais e precisa de água bruta em condições ideais para o tratamento. “Quando acontece algum incidente, como o recente assoreamento do rio Pitimbu, que muda o aspecto da água, é comum as pessoas culparem a Caern. Mas o vilão da história é a falta de preservação dos mananciais, que deve ser fiscalizada pelos órgãos ambientais e combatida de perto pela sociedade”, diz.


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